quinta-feira, 27 de setembro de 2007


Conflito Árabe-Israelita: Anatomia do Racismo


A redução de nossa humanidade a uma série de abstrações não chega a ser tão sinistra quanto ao jogo de números. As vítimas palestinas do tiroteio israelense são diariamente apresentadas como "x" número de mortos e "y" número de feridos. Seus nomes, identidades, esperanças cortadas e sonhos esmagados não são mencionados. Também permanecem ausentes a dor e a angústia de mães, pais, irmãos e outros entes queridos que terão que viver com tal perda trágica. A documentação visual do assassinato a sangue frio da criança Mohammad Al-Durra destruiu a complacência daqueles que estavam, bem á vontade com a anonimidade dos Palestinos e a invisibilidade de seu sofrimento. Até nesse caso, a máquina de propaganda israelense tentou distorcer a verdade face ás provas irrefutáveis.
Primeiro foi dito que ele foi morto por "atiradores" palestinos. Depois, ele ficou preso entre o "fogo cruzado". A pior versão foi a ilustração cínica do menino Mohammad como um "arruaceiro" ou uma criança "arteira" que fez por merecer - como se a resposta correta para uma criança que vive sua infância seja a morte deliberada. A última acusação envolvia uma pergunta: "O que ele fazia ali?". A verdadeira pergunta deveria ter sido "o que fazia o exército israelense ali?", no coração de Gaza, Palestina, atirando contra civis, inclusive contra uma criança e seu pai que foram pegos com as mãos na massa, tentando desfrutar o ato "provocativo" de fazer compras juntos.
Notem a diferença, no entanto, quando dois agentes secretos israelenses, membros dos famosos esquadrões de morte israelenses, foram mortos por manifestantes palestinos. Nenhum Palestino tentou justificar o acontecido. Ao contrário, ordens foram decretadas para investigar e prender os responsáveis. Afinal de contas, é preciso que existam coisas como regra de lei e processo legal.
Em resposta, Israel posicionou seus tanques e exércitos ainda mais perto, para acirrar o sítio e estrangular as cidades, vilas e campos de refugiados palestinos. Depois, trouxe seus helicópteros bombardeiros Apache e abriu fogo contra as cidades e vilas palestinas num cruel e insensato castigo coletivo. Sua versão dos fatos apresentou os agentes israelenses como reservistas que teriam, sem querer, "se perdido" dentro de Ramallah e depois foram "linchados" pela multidão. Referências ao "massacre", á "sede de sangue" e a "selvageria" tornaram-se a moeda verbal predominante.
Apesar de que ninguém pode culpar o assassinato de soldados, e importante, no entanto, lidar com os fatos reais e dentro de contexto: Ramallah, como cidade integralmente sob o sítio militar de Israel, estava fechada á movimentação para dentro ou fora da cidade. Apenas um acesso estava aberto, a este acesso se encontrava inteiramente controlado por vários pontos de revista militares israelenses. Portanto, "se perder" dentro de Ramallah requereria tentativas repetidas e deliberadas assistidas de tenacidade, persistência e até má fé. Os dois agentes israelenses estavam claramente infiltrados e plantados no meio de uma marcha de protesto no coração da cidade.
A ocasião era o funeral de um homem palestino, Issam Joudeh Hamad, da vila de Umm Safa, que tinha sido seqüestrado por colonos israelenses e torturado até a morte da forma mais horrível.
Filmagens e fotos horrendas do corpo, mais o testemunho de médicos que o examinaram, não foram repetidamente divulgadas aos olhos do mundo para o propósito de marcar pontos ou desumanizar os israelenses. Algumas estações árabes me informaram que as imagens eram tão horrorosas que eles decidiram não utilizá-las. A maioria das pessoas que participaram da passeata (na cidade palestina de Ramallah, sitiada) conhecia a vítima, e algumas tinham visto o corpo. Os dois agentes secretos israelenses que tinham se infiltrado na passeata foram reconhecidos pelos palestinos como membros dos "Esquadrões da Morte" que tinham sido responsáveis por assassinatos e provocações. Apesar do fato da polícia palestina ter tentado protegê-los os dois foram mortos em frente das câmeras. Isto tornou-se uma justificativa instantânea para rotular todos os palestinos como assassinos e para mais sistemática e venenosa campanha de ódio da história recente. Também foi utilizado como justificativa para os ataques aéreos de Israel em Ramallah e outras cidades palestinas.


Em seu apelo emocionado a seus compatriotas (13.10.2000) para que não explorassem esse incidente para justificar o racismo e ódio existente, o poeta israelense Yitzhak Laor documentou vários linchamentos de Palestinos pelo exército israelense e forças de seguranças. Em todos os casos, os culpados nunca foram punidos, e nenhuma manifestação de reprovação moral foi feita pelo público israelense, muito menos cidades israelenses foram bombardeadas por isto! O mesmo se aplica ao reinado de terror dos colonos israelenses, que alvejam palestinos em seus próprios lares e cidades, com plena proteção e conluio militar israelense. Apresentados como "civis israelenses" indefesos, rodeados por palestinos "hostis", a natureza sinistra e letal da violência dos colonos, como extremistas armados na ativa, é freqüentemente ignorada. A ilegalidade dos assentamentos israelenses, o caráter fundamentalista extremista dos colonos armados e os eventos horrendos de seqüestro, tortura, matança e simples violência aleatória que são cometidos impunemente, são raramente mencionados. Enquanto isso, os Palestinos continuam sendo culpados. O insulto mais gritantemente racista é o furto israelense de nossa humanidade como país. Numa tentativa de roubar nossos sentimentos mais fundamentais com relação aos nossos filhos, somos acusados de "mandar [nossos] filhos para a morte" apenas para "marcar alguns pontos com a mídia". O horror é amplificado pela total e inquestionada igualdade com o qual tal insulto mor e nacional é repetido por israelenses de todos os partidos, sem distanciamento crítico ou até consciência na enormidade de tal insulto racista.
Quando crianças palestinas se tornaram alvos para franco atiradores israelenses e outras violências do exército, o Ministério da Educação não tinha outra opção senão fechar as escolas temporariamente para minimizar a exposição dos estudantes a caminho da escola.


Os brasileiros e os ocidentais recebem somente notícias falsas através dos meios de comunicação dominados pelos judeus sionistas.

Isso foi imediatamente incorporado à máquina propagandística israelense como prova de que nós fechamos as escolas para "liberar" nossas crianças para sair e "fazer revolta", de tal forma obstruindo a livre passagem das balas israelenses. A segurança dos lares e as tentativas dos países de protegerem seus filhos não são nem consideradas. De fato, a menina de 18 meses, Sara Abdel Athim Hassan, foi atingida por uma bala no banco traseiro do carro de seu pai, enquanto as outras vítimas crianças foram mortas dentro ou perto de suas casas. Muayyad Al-Jawarish, de doze anos de idade, foi baleado no jardim de sua própria casa. A maioria das crianças foram baleadas na cabeça ou na parte superior do corpo, na maioria das vezes por balas de alta velocidade. Os alvos mais comuns das balas de aço revestidas com borracha foram os olhos de crianças. A política de atirar para matar (ou aleijar permanentemente) está em vigor no exército israelense e já tirou as vidas de mais de 200 palestinos e feriu mais de 5000 (dos quais têm seqüelas permanentes).

(Do Jornal Água Verde de Curitiba - PR)

Sem comentários: